quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Amargor(2)

Não sei por que falei de amargor na postagem passada...talvez eu esteja um pouco amargo esses dias...talvez destilei raivas antigas que ainda teimam em se apresentar à sala de estar da minha consciência...talvez eu tenha tratado minhas raivas mal e elas saíram do quarto pra tomar a minha sala de assalto...
Enfim. tento escrever crônicas, mas só saem manifestos! Parece que eu ainda tenho muito a dizer...Mas eu não queria escrever manifestos, esse blog é um treinamento para mim. Estou aprendendo a não escrever manifestos,

estou aprendendo a escrever crônicas,
estou aprendendo a escrever menos,
menos...
Talvez crônicas sejam um gênero demasiado Zen.
E eu, bem,
acabo confiando demais nas palavras...
Acabo confinado demais nas palavras...

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Totalidade de Mentirinha...

Uma vez vi uma criança pobre num sinal da avenida Washington Soares. Ela era magrinha e suja, com o nariz escorrendo aquele catarro que desce da cabeça até a barriga. Sorri, dei uma moedinha como é o meu costume, tentando transformar aquele segundo de contato em um segundo agradável para ela. Subi os vidros novamente e continuei dirigindo o meu carro.

Nós que somos pessoas intelectualizadas gostamos de fazer muitas declarações eloqüentes na nossa convivência com outras pessoas do mesmo naipe. Se formos de esquerda faremos poéticos discursos sobre a totalidade, sobre o amanhã e a utopia e de como uma vôo de borboleta pode afetar a galáxia de Órion. Mas nunca nos perguntamos, finalmente, o que temos a ver com essas crianças que esbarramos todos os dias nos semáforos, nas ruas, na praia. Parece que a totalidade é suspensa quando passamos a fazer parte dela. É mais confortável concentrar a nossa raiva e as nossas frustrações e dizer num tom inflamado, com gosto de “verdade”: “Olha o que o capitalismo faz com as nossas crianças!!!!!!”.

Ao dizer isso, sentimos nosso corpo relaxar, parece que fazemos, naquele pequenino instante, uma contribuição para a superação da opressão e do sofrimento. Essa é a verdade com gosto doce. Na verdade com gosto doce, não fazemos mais parte da totalidade...A totalidade se transforma em tudo o mais que aparentemente não é nós...Uma totalidade de mentirinha, que pode satisfazer nosso apetite por reconhecimento social, que torna nossa vida mais fácil, nossa consciência mais leve e nos dá uma sensação ótima de dever cumprido – dever para com os pobres, com os oprimidos, com os trabalhadores...

Que bom! Que bom que não tenho nada a ver com aquela criancinha miserável no semáforo que acabei de ver! Talvez eu tenha algo a ver com a parte “criancinha”, mas não tenho nada a ver com a parte “miserável”.

Que bom! Que bom se isso fosse verdade mesmo! Demorou muito, mas hoje eu sei que o fato de eu ter carro, um emprego, uma casa contribui para que aquela criança ser possível. Esta é a verdade com gosto amargo. Ela arrasa qualquer festinha intelectual dessas que fazemos nos bares para nos elogiar uns aos outros pela nossa inteligência. É uma totalidade difícil de cantar, difícil de ser parte de uma cantada que damos nas moças e rapazes para mostrar como somos sabidos e assim, senão ganhar seu respeito, pelo menos ganhar umas horas de sexo. Se for verdade o que dizemos da totalidade, temos que dar uma parada. Temos, como diria Walter Benjamin que puxar o freio de emergência. E se não podemos puxar o freio de emergência dessa nossa civilização, que façamos, pelo menos, o uso do nosso próprio freio.

Eu tenho meu carro por que a imensa parte da população do mundo não tem carro. Eu bebo álcool por que milhões estão por aí sem acesso à agua. Eu tenho à disposição milhares de tipo de carnes, filés, bistecas, baby beefs, picanhas, linguiças por que, meus amigos, simplesmente não dá para satisfazer a fome de uma enorme parte da humanidade e a nossa fome por carne ao mesmo tempo! Temos que escolher...E, de fato, escolhemos. Na nossa totalidade de mentirinha isso também cabe – optamos por comer carne é obvio! Por que as pessoas estão morrendo de fome por causa do capitalismo e não por que a maior parte da terras cultivadas o são para satisfazer o desejo de consumo de uma ínfima minoria, nós mesmos!

É aí que quando conseguimos vislumbrar a verdade com gosto amargo, começamos a perceber que nós somos o capitalismo...Que se o capitalismo fosse derrubado e instaurada uma nova ordem igualitária cuja prioridade número um fosse acabar com a fome no mundo, talvez tivéssemos que abrir mão da carne, dos nossos i-pods, dos nossos computadores, da nossa internet de alta velocidade, do nosso sushi, dos crustáceos e peixes dos nossos fins-de-semana na praia, do nosso carro, da nossa TV, das nossas viagens de férias, da nossa cervejinha, do nosso vinhozinho...E aí eu me pergunto, quantos de nós não se transformariam em contra-revolucionários? Quantos de nós percebemos que uma sociedade planetária com pessoas felizes e com as necessidades básicas satisfeitas talvez seja uma sociedade de pobres e não uma sociedade onde todos sejam do que hoje chamamos de "classe média"? Talvez seja por isso que Cuba é considerado um dos países mais ambientamente corretos, por que é um país de pobres – a contribuição de um cubano para o desastre planetário é mínima, mas mesmo assim ele sentirão os efeitos da contribuição de todos os outros.

Uma sociedade de pessoas pobres e felizes...Essa é uma utopia possível. Se sonhamos com um mundo em que todos tenham aquilo que nós temos hoje...Humm... Talvez não caiba todo mundo nesse sonho...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Felicidade...

O nosso mundo não tolera a felicidade. Mas quer nos vender a idéia de felicidade. A idéia de que felicidade é alegria, riso, excitação. Por que essas coisas podem ser vendidas, trocadas e compradas. - não diretamente, óbvio, mas através das mercadorias dirigidas aos nossos sentidos...Se algo não puder ser vendido, trocado e nem comprado, está fora do horizonte de satisfação dessa civilização. Seria difícil vender a idéia de que a coca-cola ou a cerveja traz a felicidade...Mas, em compensação, podemos associar todo o tipo de alegria histriônica regada à litros de cerveja, e podemos até lembrar de bons momentos da vida  nos quais a coca-cola ou uma cerveja  ou um vinho foi um acompanhamento insubstituível...

E é a mesma coisa com esses nossos aparelhinos carregados de tecnologia, celulares, mp3, mp4, mp5, mp6, mp7, notebooks, televisões, carros...Com as roupas que compramos, com as pessoas, empregos e dinheiro que desejamos...Com os amores alugados e nem sempre à dinheiro...Então sabemos perfeitamente que essas coisas não trazem felicidade. Mas, infelizmente, ou dito melhor, para nossa infelicidade , elas nos divertem e, se bem que a felicidade tenha alguma coisa a ver com diversão, a diversão, por si e em si só, é um obstáculo à felicidade, à sensação de satisfação jocosa permanente...

Por que vender uma sensação de alegria permanente só faz sentido num terrível mundo de insatisfação permanente e a nossa civilização, apesar de todas as aparências, é uma gigantesca indústria de insatisfação.  

Insatisfação com "felicidade" escrita no rótulo...E a diversão, que significa levar para longe, é a nossa tentativa desesperada de conseguir satisfação...Ela diverte mesmo! E nos leva para longe da plenitude do instante...

Mas se essa indústria produzisse satisfação como é que os lucros seriam gerados? 

Talvez fosse muito bom se nós nos libertássemos do rótulo e provássemos de uma felicidade sem nome!

Não é à toa que no barco onde Florentino Ariza e Fermina Dasa finalmente se entregam ao amor, no romance de Gabriel Garcia Marques, se hasteia não uma bandeira onde está escrita a palavra Felicidade, mas uma bandeira anunciando o cólera...

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Primeiro Treinamento da Plena Consciência



Meu primeiro experimento audiovisual...primeiro de uma série de Cinco, focando nos Treinamentos da Plena Consciência como concebidos por Thich Nhat Hanh.