terça-feira, 7 de abril de 2009

Renato Teixeira, o Araçá e além...

O show do renato teixeira foi algo belíssimo. As pessoas estavam tão extasiadas

 que depois que ele "terminou" o show, ninguém gritou de imediato
 o tradicional "mais um! mais um!". 
O clima era tão tranquilo, tão rural que as pessoas entraram em êxtase...
Somente depois de um tempo,
 quando o próprio Renato não saia do palco é que as pessoas começaram,
 meio que timidamente, a gritar o tal do "mais um! mais!". 
Por que a noite não pedia gritos, simplesmente...Somente
 gozo, sorrisos, emoção...
Ouvir Renato Teixeira me leva de volta para casa em mim.
Com a sua música, o menino magrelo de Quixeramobim, brinca,
 sujo de barro, vai atrás dos passarinhos só para vê-los e ouví-los, 
corre atrás das galinhas, joga pedras nos tejos...
O menino magrelo em mim...
Somente nessas horas eu o percebo vivo, pulsando,
brincando, em cores vivas...
Essa coisa me lembra também do significado da utopia para mim.
Para muitas pessoas o socialismo, ou o que seja uma sociedade livre e feliz,
é uma sociedade urbana, cheia de desenvolvimento e tecnologia,
cheia de bares, ruídos, teatros, música, shows,
comidas estranhas...Mas para mim, no fundo, nunca foi assim...
Acho que por isso elegi Ernst Bloch como meu filósofo preferido 
- aliás, nos escolhemos...Filósofo da utopia campestre, rural, natural...
Muitos acham que a cidade quarda algo de precioso que se perdeu...
Para mim o que era precioso e se perdeu foi  justamente aquilo 
que só é possível na cidade pequena, na cidade do interior, na cidade rural - mais rural do que cidade...
A cidade grande é um monumento à destruição da natureza. 
Nela a humanidade racionalista triunfante marcha numa guerra de ocupação
contra os rios, o ar, as árvores e os bichos - e  seu estabelecimento é justamente o monumento dessa vitória, vitória inglória...Nessa ocupação também morre o homem e a mulher do campo, a vida tranquila e marcada pelos ritmos cósmicos, pelas estações, a infância como brincadeira e a velhice como brincadeira, satisfação e fim de ciclo. 
A ausência de pressa, a liberdade frente ao relógio, ausência de medo e de ansiedade também se despedem e vão embora. 
Os novos moradores,  a tropa de ocupação, instauram a civilização do relógio que nunca marca o presente - está sempre marcando o tempo que se "perdeu" e o tempo que "ainda falta".
As estações se transformam em obstáculos, e assim também as árvores, os bichos, a chuva, a noite, o dia, tudo se transforma em obstáculo para a absorção num mundo completamente "humano". 
Que ingrediente novo o socialismo pode agregar neste campo de batalha,
senão mais guerra? Por isso não sinto mais tesão em falar de socialismo, principalmente quando, na prática, significa apenas socialização dos meios de destruição da natureza.
"Depois da curva da estrada, tem um pé de araçá..."
Por essa utopia eu acho que vale a pena lutar. 
A utopia cantada por Renato Teixeira - um mundo onde seja possível uma curva de estrada e nela um lindo pé de araçá.

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