sábado, 14 de novembro de 2009

quixeramobim

no meu primeiro outuno
as folhas caem como pela primeira vez...
tudo muda e parece morrer
e eu também padeço um pouco dessa ilusão,
talvez por que eu esteja longe de casa,
onde não há outonos e nem frios,
mas mesmo assim momentos melancólicos em pleno sol
ou em plena lua...
onde está Quixeramobim senão aqui,
quando olho para esse estranho céu do hemisfério norte?
a seca era o meu outono
e a chuva a volta à vida...
e aqui? será a primavera?

sábado, 5 de setembro de 2009

teclqdo francês...

Sei melhor onde estou
mas não sei para onde vou...
mas se não é uma pergunta,
não tem problema...
o ùnico problemq é o teclqdo francês.

sábado, 9 de maio de 2009

Caçador de Mim

Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim

Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim

Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura

Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir
O que me faz sentir
Eu, caçador de mim

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Divã

Ontem fui assisitir ao filme Divã, com uma amiga...

E apesar de ser uma comédia, chorei bastante...Por que as situações me tocaram bastante.
É claro que estou numa situação emocional na qual eu choro até em ver um siri na praia, mas independente disso, o filme está muito bem feito e facilitou minha conexão com as situações passadas na tela.

Quando temos amigos antigos, muitas vezes o nosso maior desejo é que não precisemos de palavras para expressarmos nossos sentimentos para eles. Ora, acontece muitas vezes dos nossos amigos adivinharem o que se passa na nossa cabeça. Mas, não é sempre, infelizmente...
Às vezes, sorrimos e nossos amigos antigos acreditam no nosso sorriso, mas na verdade não queríamos sorrir, sorrimos apenas por causa do convencionalismo de estarmos alegres o tempo todo...e muitas vezes repetimos o convencionalismo com eles, até o ponto de terminarmos por não sermos mais sinceros uns com os outros...

Acontece exatamente isso comigo. Ando muito insincero nesses últimos dias. 
Ando sorrindo por convenção. 
Digo que estou bem quando me saúdam perguntando "Oi, tudo bem??". 
Quando me convidam para sair, saio mesmo sem vontade.
Digo que estou prestando atenção, quando na verdade estou perdido em pensamentos...
Estou em silêncio, mas querendo dizer um monte de coisas...

E os meus amigos estão acreditando em mim...Ou, pelo menos, não me dizem que não acreditam...

É engraçado. A partir de um filme...Mas é assim, quando estamos abertos, qualquer coisa pode ser um divã, uma pedra, um amigo, um filme, um bicho, um blog...

E quando estamos sozinhos, demasiados sozinhos, acostumamo-nos demais a estarmos sozinhos com nossos próprios pensamentos e emoções e quando acontece de estarmos em grupo, pensamos estar no controle da situação, mas acabamos por nos descontrolar e sacar a metralhadora giratória. 

E acho que eu estou sozinho, demasiado sozinho... 

Quando chegarei?


sexta-feira, 1 de maio de 2009

Coca-cola


Engraçado como as coisas acontecem....
Ontem, o meu vizinho me apareceu radiante...
Mas não era de uma radiância comum, ele estava com uma aura quase solar, daquelas que a gente vê em pessoas passionais e enérgicas...
Pois o sol interior do meu vizinho acendeu meus gravetos úmidos
e conseguiu reacender minhas chamas
e dar uma pausa nesses meus dias mais que sombrios...
Excepcionalmente, juntei-me aos meus vizinhos em um sarauzinho noturno e, ainda mais excepcionalmente, dormi depois da meia-noite...
E bem!
Mas o que eu guardei mesmo na lembrança foi
que ele adentrou o meu apartamento como um vendaval de luz
e disse:
- Estou tão bem! Estou me sentindo uma coca-cola gelada!!!!!

E a minha primeira gargalhada do mês de abril,
explodiu...
Antes tarde que nunca!

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Sanghe Saboor, Por Mohsen Chavoshi

...

Quando a noite demora muito,
Pensamos que o sol não vem...
Precisamos dormir
Para não esperar o sol...

Dormindo,
O sol nos surpreende.

Quando esperamos o sol
Ficamos aliviados ao vê-lo,
O mesmo sol...

Mas ao acordarmos,
Depois de uma noite bem dormida,
Podemos sorrir de alegria
Por sentirmos
Um sol inteiramente novo...

terça-feira, 7 de abril de 2009

Renato Teixeira, o Araçá e além...

O show do renato teixeira foi algo belíssimo. As pessoas estavam tão extasiadas

 que depois que ele "terminou" o show, ninguém gritou de imediato
 o tradicional "mais um! mais um!". 
O clima era tão tranquilo, tão rural que as pessoas entraram em êxtase...
Somente depois de um tempo,
 quando o próprio Renato não saia do palco é que as pessoas começaram,
 meio que timidamente, a gritar o tal do "mais um! mais!". 
Por que a noite não pedia gritos, simplesmente...Somente
 gozo, sorrisos, emoção...
Ouvir Renato Teixeira me leva de volta para casa em mim.
Com a sua música, o menino magrelo de Quixeramobim, brinca,
 sujo de barro, vai atrás dos passarinhos só para vê-los e ouví-los, 
corre atrás das galinhas, joga pedras nos tejos...
O menino magrelo em mim...
Somente nessas horas eu o percebo vivo, pulsando,
brincando, em cores vivas...
Essa coisa me lembra também do significado da utopia para mim.
Para muitas pessoas o socialismo, ou o que seja uma sociedade livre e feliz,
é uma sociedade urbana, cheia de desenvolvimento e tecnologia,
cheia de bares, ruídos, teatros, música, shows,
comidas estranhas...Mas para mim, no fundo, nunca foi assim...
Acho que por isso elegi Ernst Bloch como meu filósofo preferido 
- aliás, nos escolhemos...Filósofo da utopia campestre, rural, natural...
Muitos acham que a cidade quarda algo de precioso que se perdeu...
Para mim o que era precioso e se perdeu foi  justamente aquilo 
que só é possível na cidade pequena, na cidade do interior, na cidade rural - mais rural do que cidade...
A cidade grande é um monumento à destruição da natureza. 
Nela a humanidade racionalista triunfante marcha numa guerra de ocupação
contra os rios, o ar, as árvores e os bichos - e  seu estabelecimento é justamente o monumento dessa vitória, vitória inglória...Nessa ocupação também morre o homem e a mulher do campo, a vida tranquila e marcada pelos ritmos cósmicos, pelas estações, a infância como brincadeira e a velhice como brincadeira, satisfação e fim de ciclo. 
A ausência de pressa, a liberdade frente ao relógio, ausência de medo e de ansiedade também se despedem e vão embora. 
Os novos moradores,  a tropa de ocupação, instauram a civilização do relógio que nunca marca o presente - está sempre marcando o tempo que se "perdeu" e o tempo que "ainda falta".
As estações se transformam em obstáculos, e assim também as árvores, os bichos, a chuva, a noite, o dia, tudo se transforma em obstáculo para a absorção num mundo completamente "humano". 
Que ingrediente novo o socialismo pode agregar neste campo de batalha,
senão mais guerra? Por isso não sinto mais tesão em falar de socialismo, principalmente quando, na prática, significa apenas socialização dos meios de destruição da natureza.
"Depois da curva da estrada, tem um pé de araçá..."
Por essa utopia eu acho que vale a pena lutar. 
A utopia cantada por Renato Teixeira - um mundo onde seja possível uma curva de estrada e nela um lindo pé de araçá.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Renato Teixeira - Amizade Sincera

E falando em amizade...de um show ontem de Renato Teixeira no Dragão do Mar.

Amizade Sincera - Renato Teixeira

Amizade sincera é um santo remédio
É um abrigo seguro
É natural da amizade
O abraço, o aperto de mão, o sorriso
Por isso se for preciso
Conte comigo, amigo disponha
Lembre-se sempre que mesmo modesta
Minha casa será sempre sua
Amigo
Os verdadeiros amigos
Do peito, de fé
Os melhores amigos
Não trazem dentro da boca
Palavras fingidas ou falsas histórias
Sabem entender o silêncio
E manter a presença mesmo quando ausentes
Por isso mesmo apesar de tão raros
Não há nada melhor do que um grande amigo

terça-feira, 31 de março de 2009

Amizade, Política, Futuro, Devaneios....

Como é que é somos capitalismo? Ou melhor como nos tornamos capitalismo?
Um dia desses eu estava pensando na época em que eu era militante de uma organização política...Sabe, estou sempre pensando nessa época, para me entender um pouco o que sou hoje e para entender o processo pelo qual um pequeno, e aparentemente sólido, grupo de amigos, do qual eu fazia parte, explodiu em pedaços...
Muitos hoje se consideram inimigos, não falam mais entre si nas raras vezes em que se encontram, mas costumam falar mal uns dos outros para aqueles que são próximos agora...
Estão em partidos diferentes ou fora dos partidos e tudo aquilo que conversávamos quando éramos jovens sobre sermos diferentes, amarmos a humanidade, sermos livres, sobre estarmos quebrando paradigmas, tudo isso não suportou o teste do tempo...
Apesar de não sabermos disso à época, nossas palavras eram frágeis, muito frágeis, baseadas num consenso forte, mas provisório, forjado na luta social...E, portanto, não suportou o dissenso...
A política na nossa sociedade não é algo que possa ser feito em grupo, ou melhor, só pode ser feita em grupo até a primeira eleição ganha, depois disso o grupo é convidado a se enquadrar no perfil da política baseada nas personalidades públicas e assumir, desse modo o seu papel de claque e suporte à personalidade do momento.
A degeneração do grupo em claque é uma sombra que acompanha o movimento socialista.Sempre achamos que Stalin é algo longe e aterrador. Sim, é aterrador, mas está em nós mesmos, sendo criado e alimentado pouco a pouco pela instituições da democracia representativa. Por que temos palavras tão belas e por que elas são tão frágeis? Por que não conseguimos nem sequer manter uma amizade que não seja baseada numa profissão de fé comum? Por que amigos de vinte anos se tornam inimigos virulentos?
No nosso grupo nós costumávamos criticar os excessos das revoluções por causa das suas mortes e por causa da face autofágica que a luta assumia em determinados momentos...Mas, vejam só!, bastou uma mera prefeitura para que nos considerássemos inimigos e apontássemos os dedos uns pros outros chamando-nos de traidores.
Vamos imaginar agora que não fosse uma prefeitura, mas fosse um país inteiro...Que finalmente estourou um processo revolucionário...Quem de nós estaria, hoje, sendo contado entre os mortos? Quantos de nós sobreviveriam? Quem seriam os traidores e quem seriam os heróis? Quanto do sonho da bela utopia restaria no final? talvez apenas as belas palavras e as fotografias de jovens imaturos apaixonados por um ideal demasiado grande e igualmente imaturo...
Mas só nos damos conta disso quando, pouco a pouco, tudo aquilo que fora aparentemente destruído é finalmente reconstruído e pintado com cores novas, para que a próxima geração o destrua e reconstrua de novo...
Mas o interessante dos tempos de hoje, diferentemente de todos os tempos anteriores, é que não temos mais todo o tempo do mundo, não temos mais o futuro como uma certeza definitiva, seja o que for.
Não temos mais tanto tempo, não é mais a questão de termos ou não socialismo ou qualquer outra utopia no futuro, de termos ou não a barbárie como possibilidade...É termos ou não futuro simplesmente, ou seja uma expectativa prolongada num tempo indefinido de que, enquanto espécie, ao menos existamos. Isso deveria mudar muita coisa, o modo como nos vemos uns aos outros e o modo como encaramos nossa relação uns com os outros.
Acho que quando temos consciência de que vamos desaparecer o valor que damos às coisas muda enormemente. Tudo o que parecia importante e crucial e supremo e objetivo e bom e verdadeiro se desfaz...
"Tudo o que é sólido se desfaz no ar", já diria um mestre nosso...Uma discordância política se transforma em nada, se transforma num buraco da bolacha cream cracker...
Mas quando quando não percebemos essa ausência de futuro, o buraco da bolacha vira uma motivação suprema para matar ou morrer, transforma-se em verdade sagrada...
É como as galinhas brigando por milho, minutos antes de serem decapitadas...
Ao contemplar a ausência de futuro da minha espécie ou possibilidade iminente dessa ausência eu prefiro cultivar a amizade, a gentileza...Se existe algum futuro possível ele está assentado largamente sobre a nossa capacidade de sermos amigos, de sermos gentis uns com os outros, com os animais, com a natureza.
Considero-me uma pessoa muito afortunada em ter e cultivar amizades em poĺos políticos e sociais que se enfrentam. Fiquei muito menos arrogante e sabido, apesar de continuar um pouco arrogante e metido a sabido. Descobri que posso permanecer amigo sem a necessidade de me associar a eles nas suas práticas que não considero saudáveis. Descobri que todos estamos aprendendo a duras penas a viver e conviver e a transformar nossa realidade e que se a boa intenção só não basta, sem ela estamos perdidos. Com meus amigos e comigo mesmo, aprendi que podemos perder as boas intenções. Isso pode acontecer com qualquer um. Quando nos damos conta já estamos com a arma na mão prontos pra atirar. As boas intenções são plantinhas frágeis, difíceis de cuidar quando elas estão crescendo. Elas precisam de atenção, de presença, de água e sol. Quando temos um grupo de amigos conscientes do perigo, teremos a chance de vê-las crescer a um ponto em que não serão mais tão frágeis. Mas se agimos sozinhos, teremos uma tentação enorme de trocarmos elas por plantinhas de plástico...

domingo, 22 de março de 2009

Tardezinha na Praia de Iracema

Hoje à tarde sai para dar uma caminhada por aqui por perto de casa,
na Praia de Iracema,na esperança que uma chuva forte
me pegasse no meio do caminho e eu tomasse o meu banhozinho que
está ficando costumeiro...
A chuva não veio, mas a caminhada foi maravilhosa...Poucas pessoas se aventuravam a
passear, medrosas só com a ameaça da chuva...
Mas eu sou do tempo em que, em Quixeramobim,
olhávamos para o (raro) céu cinza e com nuvens carregadas
e dizíamos "Ói, o tempo hoje tá bonito pra chover!!"
E se chovesse, era possível ouvir os gritos de alegria por toda a cidade
e nós, as crianças, íamos direto tomar banho nos "jacarés" da igreja,
as melhores e mais fortes bicas da cidade. Minha mãe ficava em casa,
esperando a água limpar as telhas primeiro, antes de jogar o cano da calha
para dentro da cisterna e resolver nossos problemas com água pelos próximos meses...

Mas na beira da praia dava pra se ouvir gritos de jovens
aproveitando a praia deserta pra tomar banho e se divertir sem
os olhares dos incomodados - gritando aquele velho nosso conhecido
grito de guerra do cearense moleque...
Para quebrar o bucolismo do meu fim de tarde
alguém finalmente se aproximou de mim e ofereceu sexo...
Sorrindo dessas coisas das nossas praias, eu disse,
"não, meu filho, muito obrigado".

sexta-feira, 6 de março de 2009

Meditação da Comida

Traduzi este texto sobre o modo como comemos em Plum Village e nos Centros de Prática no resto do mundo:

"Este pedaço de pão é um embaixador do cosmos inteiro.

Comer uma refeição juntos é uma prática meditativa. Devemos tentar oferecer nossa presença para cada refeição. Podemos começar a praticar já no momento em que nos servimos, refletindo sobre quantos elementos, como a chuva, o sol, a terra, o ar e amor se reuniram para constituir essa refeição. De fato, através da comida podemos ver que o universo inteiro está sustentando nossa existência.

Ficamos conscientes de toda a comunidade enquanto nos servimos e devemos pegar apenas aquela quantidade que é necessaŕia para nós. Antes de comer, convidamos o sino a soar por três vezes, desfrutamos da nossa respiração e praticamos as seguintes cinco contemplações:

- Esta comida é uma dádiva da terra, do céu, de numerosos seres vivos e de muito trabalho duro;
- Que possamos comer com plena consciência e gratidão para que mereçamos receber o alimento em nosso corpo;
- Que possamos reconhecer e transformar nossas formações mentais não-saudáveis, especialmente nossa avidez, e aprendamos a comer com moderação;
- Que possamos manter viva a nossa solidariedade comendo de modo a reduzir o sofrimento dos seres vivos, proteger nosso planeta e impedir o processo de aquecimento global;
- Aceitamos esta comida como uma maneira de nutrir nossa fraternidade, fortalecer nossa comunidade (Sangha) e alimentar o nosso ideal de servir a todos os seres.

Devemos comer com calma, mastigando bem cada porção, no mínimo 30 vezes, até que a comida se liqüefaça. Fazer isso ajuda o nosso processo digestivo. Vamos aproveitar cada pedaço de nossa comida e a presença de nossos irmãos e irmãs de dharma à nossa volta. Vamos nos estabelecer no momento presente, comendo de tal forma que a solidez, a alegria e a paz sejam possíveis durante a refeição.

Ao comermos em silêncio, a comida se torna real com a nossa plena consciência e ficamos totalmente atentos ao processo de nutrição acontecendo. Para aprofundar nossa prática de comer com plena consciência e alimentar a atmosfera de paz, permanecemos sentados durante o período de silêncio. Depois de vinte minutos de silêncio, convidamos o sino a tocar novamente duas vezes. Nesse momento, podemos conversar algo saudável como nossos amigos e começar a nos levantar da mesa.

Ao finalizar a refeição, dedicamos alguns momentos para tomarmos consciência de que acabamos de comer, de que o nosso prato está vazio e de que nossa fome está saciada. Assim, enchemo-nos de gratidão ao percebermos como somos afortunados por termos uma refeição para comer, sentimento que nos apóia no nosso caminho de amor e sabedoria".

terça-feira, 3 de março de 2009

O Leitor

Um dia desses vi um filme excelente com amigos: "O Leitor" não quero aqui me deter em contar a estória do filme, mas gostaria de desenvolver uma coisas que me surgiram na cabeça imediatamente...Mesmo durante o filme.

Um dos personagens centrais do filme é uma alemã de nome Hanna Hanitz (se não me falha a memória), nos anos que sucederam a II Guerra Mundial. Mulher extremamente orgulhosa que por viver tentando encobrir uma vergonha pessoal acaba por ir trabalhar para as SS nazistas. E nesse trabalho, como era de se esperar, envolve-se diretamente com os processos de assassinato em massa.

Em uma certa altura do filme, mostra-se uma cena em que ela e outras funcionárias das SS eram julgadas pela morte de 300 prisioneiras. O interessante não é nem que ela, em nome de seu orgulho, prefira assumir algo que não fez. É o modo como ela fala dos anos da guerra. Uma moça pobre, muito disciplinada, uma cidadã exemplar - fala de um jeito simples, sem hipocrisia, sem peso na consciência, ou seja, de um modo desconcertante (para os juízes e advogados) sobre o consenso nacional da sociedade alemã da época em aceitar a matança organizada como um elemento natural e comum da vida social.

Ela fazia parte ativa dessa sociedade, fez o papel que a sociedade espera dela e simplesmente não entendia por que estava sendo criticada ao ter cumprido o seu dever como funcionária pública. O coroamento de sua atitude é quando, a uma certa altura ela pergunta ao advogado, com um ar entre surpresa e desafio "O que o senhor teria feito em meu lugar???". Talvez ela pensasse, "é fácil criticar agora que o mundo todo nos condena, mas e o senhor? onde o senhor estava mesmo?"

Um grande amigo meu exclamou "Olha a banalização da violência!!"

E é isso mesmo.

Olhemos agora para nós mesmos. Em vez daquelas mulheres no banco dos réus, estamos nós: samuel, renato, paulinha, joão, pedro, isa, manuel, maria, rosa, ranulfo...

A acusação nos pergunta com ar grave e veemente: "É verdade, que vocês bebiam cerveja mesmo sabendo que, a poucos quilômetros de vocês, milhares de pessoas não tinham água para beber? Que vocês se davam ao luxo de consumir quantidades extravagantes de água pelo simples prazer de uma diversão? Que vocês consumiam combustível sem necessidade, jogando monóxido de carbono na atmosfera só para se deslocar de um lado para o outro para assistir filmes, ir para bares, passear na praia, etc?".

Poderia me estender e muito...Fico só me lembrando que o advogado de acusação poderia também me acusar de jogar 100 litros de água potável numa máquina para lavar 5 quilos de roupa, por que a minha máquina de lavar é uma brastemp que tem um super-enxágüe duplo!!

Poderia me lembrar também dos litros de detergente que uso para lavar a louça só para sentir o cheiro de maçã nos meus pratos e panelas...Bem, e só para ficar nos meus usos da água...Sem passar para o consumo de artigos supérfluos...

Talvez eu perguntasse também à acusação: "O que você queria que eu tivesse feito? Eu posso dizer que eu fui até um crítico da sociedade!". E retornaria para ele a mesma pergunta: "E você aonde estava?", meu último subterfúgio...

Banalização é exatamente isto...

Estamos sempre fazendo o que esperam que nós façamos. Por que qualquer coisa que todo mundo faça se torna banal, seja um massacre ou o desperdício d'água...

Podemos respirar aliviados por que não somos culpados sozinhos ou fomos só cumplices.

Estamos a salvo por que, aparentemente (e apenas aparentemente), não sofremos de um modo agudo, direto e imediato as consequências de nossos atos.

E, no fim, a acusação poderia muito bem me responder: "Eu era um bebê nessa época!"

Eu sou Hanna Hanitz e, ainda por cima, sei ler...

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Amargor(2)

Não sei por que falei de amargor na postagem passada...talvez eu esteja um pouco amargo esses dias...talvez destilei raivas antigas que ainda teimam em se apresentar à sala de estar da minha consciência...talvez eu tenha tratado minhas raivas mal e elas saíram do quarto pra tomar a minha sala de assalto...
Enfim. tento escrever crônicas, mas só saem manifestos! Parece que eu ainda tenho muito a dizer...Mas eu não queria escrever manifestos, esse blog é um treinamento para mim. Estou aprendendo a não escrever manifestos,

estou aprendendo a escrever crônicas,
estou aprendendo a escrever menos,
menos...
Talvez crônicas sejam um gênero demasiado Zen.
E eu, bem,
acabo confiando demais nas palavras...
Acabo confinado demais nas palavras...

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Totalidade de Mentirinha...

Uma vez vi uma criança pobre num sinal da avenida Washington Soares. Ela era magrinha e suja, com o nariz escorrendo aquele catarro que desce da cabeça até a barriga. Sorri, dei uma moedinha como é o meu costume, tentando transformar aquele segundo de contato em um segundo agradável para ela. Subi os vidros novamente e continuei dirigindo o meu carro.

Nós que somos pessoas intelectualizadas gostamos de fazer muitas declarações eloqüentes na nossa convivência com outras pessoas do mesmo naipe. Se formos de esquerda faremos poéticos discursos sobre a totalidade, sobre o amanhã e a utopia e de como uma vôo de borboleta pode afetar a galáxia de Órion. Mas nunca nos perguntamos, finalmente, o que temos a ver com essas crianças que esbarramos todos os dias nos semáforos, nas ruas, na praia. Parece que a totalidade é suspensa quando passamos a fazer parte dela. É mais confortável concentrar a nossa raiva e as nossas frustrações e dizer num tom inflamado, com gosto de “verdade”: “Olha o que o capitalismo faz com as nossas crianças!!!!!!”.

Ao dizer isso, sentimos nosso corpo relaxar, parece que fazemos, naquele pequenino instante, uma contribuição para a superação da opressão e do sofrimento. Essa é a verdade com gosto doce. Na verdade com gosto doce, não fazemos mais parte da totalidade...A totalidade se transforma em tudo o mais que aparentemente não é nós...Uma totalidade de mentirinha, que pode satisfazer nosso apetite por reconhecimento social, que torna nossa vida mais fácil, nossa consciência mais leve e nos dá uma sensação ótima de dever cumprido – dever para com os pobres, com os oprimidos, com os trabalhadores...

Que bom! Que bom que não tenho nada a ver com aquela criancinha miserável no semáforo que acabei de ver! Talvez eu tenha algo a ver com a parte “criancinha”, mas não tenho nada a ver com a parte “miserável”.

Que bom! Que bom se isso fosse verdade mesmo! Demorou muito, mas hoje eu sei que o fato de eu ter carro, um emprego, uma casa contribui para que aquela criança ser possível. Esta é a verdade com gosto amargo. Ela arrasa qualquer festinha intelectual dessas que fazemos nos bares para nos elogiar uns aos outros pela nossa inteligência. É uma totalidade difícil de cantar, difícil de ser parte de uma cantada que damos nas moças e rapazes para mostrar como somos sabidos e assim, senão ganhar seu respeito, pelo menos ganhar umas horas de sexo. Se for verdade o que dizemos da totalidade, temos que dar uma parada. Temos, como diria Walter Benjamin que puxar o freio de emergência. E se não podemos puxar o freio de emergência dessa nossa civilização, que façamos, pelo menos, o uso do nosso próprio freio.

Eu tenho meu carro por que a imensa parte da população do mundo não tem carro. Eu bebo álcool por que milhões estão por aí sem acesso à agua. Eu tenho à disposição milhares de tipo de carnes, filés, bistecas, baby beefs, picanhas, linguiças por que, meus amigos, simplesmente não dá para satisfazer a fome de uma enorme parte da humanidade e a nossa fome por carne ao mesmo tempo! Temos que escolher...E, de fato, escolhemos. Na nossa totalidade de mentirinha isso também cabe – optamos por comer carne é obvio! Por que as pessoas estão morrendo de fome por causa do capitalismo e não por que a maior parte da terras cultivadas o são para satisfazer o desejo de consumo de uma ínfima minoria, nós mesmos!

É aí que quando conseguimos vislumbrar a verdade com gosto amargo, começamos a perceber que nós somos o capitalismo...Que se o capitalismo fosse derrubado e instaurada uma nova ordem igualitária cuja prioridade número um fosse acabar com a fome no mundo, talvez tivéssemos que abrir mão da carne, dos nossos i-pods, dos nossos computadores, da nossa internet de alta velocidade, do nosso sushi, dos crustáceos e peixes dos nossos fins-de-semana na praia, do nosso carro, da nossa TV, das nossas viagens de férias, da nossa cervejinha, do nosso vinhozinho...E aí eu me pergunto, quantos de nós não se transformariam em contra-revolucionários? Quantos de nós percebemos que uma sociedade planetária com pessoas felizes e com as necessidades básicas satisfeitas talvez seja uma sociedade de pobres e não uma sociedade onde todos sejam do que hoje chamamos de "classe média"? Talvez seja por isso que Cuba é considerado um dos países mais ambientamente corretos, por que é um país de pobres – a contribuição de um cubano para o desastre planetário é mínima, mas mesmo assim ele sentirão os efeitos da contribuição de todos os outros.

Uma sociedade de pessoas pobres e felizes...Essa é uma utopia possível. Se sonhamos com um mundo em que todos tenham aquilo que nós temos hoje...Humm... Talvez não caiba todo mundo nesse sonho...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Felicidade...

O nosso mundo não tolera a felicidade. Mas quer nos vender a idéia de felicidade. A idéia de que felicidade é alegria, riso, excitação. Por que essas coisas podem ser vendidas, trocadas e compradas. - não diretamente, óbvio, mas através das mercadorias dirigidas aos nossos sentidos...Se algo não puder ser vendido, trocado e nem comprado, está fora do horizonte de satisfação dessa civilização. Seria difícil vender a idéia de que a coca-cola ou a cerveja traz a felicidade...Mas, em compensação, podemos associar todo o tipo de alegria histriônica regada à litros de cerveja, e podemos até lembrar de bons momentos da vida  nos quais a coca-cola ou uma cerveja  ou um vinho foi um acompanhamento insubstituível...

E é a mesma coisa com esses nossos aparelhinos carregados de tecnologia, celulares, mp3, mp4, mp5, mp6, mp7, notebooks, televisões, carros...Com as roupas que compramos, com as pessoas, empregos e dinheiro que desejamos...Com os amores alugados e nem sempre à dinheiro...Então sabemos perfeitamente que essas coisas não trazem felicidade. Mas, infelizmente, ou dito melhor, para nossa infelicidade , elas nos divertem e, se bem que a felicidade tenha alguma coisa a ver com diversão, a diversão, por si e em si só, é um obstáculo à felicidade, à sensação de satisfação jocosa permanente...

Por que vender uma sensação de alegria permanente só faz sentido num terrível mundo de insatisfação permanente e a nossa civilização, apesar de todas as aparências, é uma gigantesca indústria de insatisfação.  

Insatisfação com "felicidade" escrita no rótulo...E a diversão, que significa levar para longe, é a nossa tentativa desesperada de conseguir satisfação...Ela diverte mesmo! E nos leva para longe da plenitude do instante...

Mas se essa indústria produzisse satisfação como é que os lucros seriam gerados? 

Talvez fosse muito bom se nós nos libertássemos do rótulo e provássemos de uma felicidade sem nome!

Não é à toa que no barco onde Florentino Ariza e Fermina Dasa finalmente se entregam ao amor, no romance de Gabriel Garcia Marques, se hasteia não uma bandeira onde está escrita a palavra Felicidade, mas uma bandeira anunciando o cólera...

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Primeiro Treinamento da Plena Consciência



Meu primeiro experimento audiovisual...primeiro de uma série de Cinco, focando nos Treinamentos da Plena Consciência como concebidos por Thich Nhat Hanh.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Obrigado, Rubem Alves

Gente, eu preciso confessar uma coisa. Não é muito grave, mas acho melhor confessar e confessar da melhor maneira que sei...
Eu comecei a escrever esse blog por causa de uma inveja profunda...
eu sempre gostei de escrever, mas enjoei do meu estilo,
essa é a verdade...Quando olho para os meus textos, me dá uma dor enorme...
eu os vejo como se estivessem totalmente contaminados por idéias sem raiz, contaminados com filosofia...Corretos, carregados de energia, de grandiloqüência,
de sapiência - já que eu, apesar de muito jovem, me considerava muito sabido e queria mudar o mundo, não com o próprio mundo, mas com a minha vontade...
escrevia com uma certa poesia, mas uma poesia não poética, de forma,
de fôrma...
como os discursos das pessoas de esquerda, que nem eu, antes de subirem ao poder, tudo parece poesia, mas não é. Quando sobem ao poder, e o poder sobe neles,
vemos que eram só palavras bonitas.
Mas tenho que voltar à minha confissão:

Bem, a verdade é que eu tenho muita, mas muita mesmo, inveja do Rubem Alves...
do seu estilo de escrever, das suas palavras singelas e meio misturadas com sofisticação sem parecer arrogante...Não do Rubem Alves Teólogo da Libertação,
confesso que acho que consigo chegar perto dele no estilo para-acadêmico e apaixonado de escrever, embora sem a mesma bagagem de experiência e dor.
Mas do Rubem Alves para além de toda teologia, do Rubem Alves livre...
gostaria de escrever como ele, coisas curtas e lindas, que nos estimulam a querer escrever também, e que parecem tirar as palavras da nossa boca, para nosso próprio deleite e prazer.
Gostaria de escrever assim, com frases cheias de diminutivos, florzinhas, pézinhos, se não diminutivos explícitos, aqueles implícitos que nos põe crianças a se lambuzar de terra no jardim das palavras...este blog é uma tentativazinha...
Talvez eu devesse pôr um pouco mais de mim nas palavras, por que sei que no fundo de mim carrego muitos diminutivos,
barquinhos, bichinhos, passarinhos, mas este fundo talvez seja fundo demais e escuro demais e turvo demais...
Agora que a chuva está passando, o barro está assentando no fundo do igarapé e a água está se tornando límpida e, assim, eu estou podendo me ver no seu espelho!
E surpresa!
Estou podendo ver meus diminutivos, meus peixinhos, as pedrinhas, as folhinhas sendo levadas para algum canto que não me preocupo mais em saber...
Obrigado Rubem Alves.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Paz em si mesmos, paz em Gaza


Gostaria de convidar os leitores do nosso blog a fazerem não uma reflexão sobre os atuais acontecimentos na Faixa de Gaza, mas uma reflexão sobre qual o estado da nossa mente quando entramos em contato com essas notícias.


Gostaria de chamar a atenção para o fato de que nem sempre participamos das campanhas pela paz ou contra a violência ou em solidariedade com povos e comunidades exploradas e oprimidas com a mente verdadeiramente em paz, harmonia e não-violência. O dualismo com o qual vivemos cotidianamente tende a se refletir em todas as nossas ações sem tomarmos consciência, tende a se refletir em nós mesmos e na nossa percepção das coisas.

Desse modo, sem querer, alimentamos aquilo que estamos criticando ou agindo contra, semeamos mais violência e visões errôneas.

É uma dificuldade que sinto na pele. É muito difícil observar um conflito sem tomar partido e sem ser indiferente. Fui militante da esquerda durante muitos anos e como tal, fiquei especialista em tomar partido e me alinhar com um dos lados. Ao me tornar budista tive que reaprender a ver as coisas e mais, reaprender a agir nas circunstâncias que clamavam por ação.

Por isso escrevo agora. Para tentar ajudar aqueles que como eu sentem a mesma dificuldade - principalmente diante de tanta notícia ruim, notícias sempre acompanhadas pela parcialidade comum à toda imprensa.

Como manter a mente clara e equânime numa situação como essa de Gaza? Como não demonizar pessoas e países? Como não alimentar o ódio diante de tantas mortes?

Pensei no Quarto Treinamento da Plena Consciência* elaborado pelo mestre Thich Nhât Hanh e no modo como ele pode ajudar-nos. Pensei nele em forma de perguntas também:

Como cultivar a fala amável e a escuta profunda para levar alegria e felicidade aos árabes e judeus da Palestina/Israel e aliviá-los em seu sofrimento?

Como falar a verdade, com palavras que inspirem autoconfiança, alegria e esperança para ambos os povos?

Como fazer para não divulgar notícias que não tenham fundamento seguro e nem criticarei ou condenarei aquilo de que não tenha certeza?

Como fazer para evitar pronunciar palavras que possam causar divisão ou discórdia, que possam desagregar os povos árabe e judeu da Palestina/Israel?

Como fazer todos os esforços possíveis para reconciliar e resolver todos os conflitos, por menores que sejam?

Não é fácil, mas temos que tentar. Podemos fazer, para nos ajudar nisso, sugiro o seguinte exercício:

Podemos imaginar os atuais governantes de Israel, os comandantes dos massacres de inocentes (Shimon Peres, Ehud Olmert, Dalia Itzik, Tzipi Livni, Ehud Barak e todos os outros) como quando eles eram crianças (uns na Europa, outros no Irã e em outros países do Oriente Médio). Todos eles têm a natureza de Buda e a capacidade de iluminação. Todos sofrem e sofrerão mais ainda como resultado de suas ações inábeis e baseadas na ignorância.

Podemos também imaginar as lideranças do Hamas e da autoridade palestina do mesmo modo (Khaled Mashal, Mahmoud Zahar, Mahmoud Abbas, Saeb Erekat e todos os outros), como crianças brincando. Também, todos eles têm a natureza de Buda e a mesma capacidade de iluminação. Todos estão sofrendo e sofrerão mais ainda como resultado de suas ações inábeis e baseadas na ignorância.

Quando eram crianças, todos eles eram capazes de brincar uns com os outros, sem a necessidade de saber o que são, que cor têm ou de onde vêm. E perderam essa capacidade. A criança interior deles está perdida em meio a intermináveis teias de sofrimento e rancor.

Podemos ajudar os palestinos sem pensar que os judeus israelenses são os maus e podemos ajudar os judeus sem pensar que os palestinos são os maus. Ambas as sociedades estão aprendendo a conviver consigo mesmas e com o mundo que os rodeia, e aprendizagens coletivas levam tempo e vidas. Temos que apoiá-las neste caminho, para que elas percebam que quanto mais se identificam (consigo mesmas ou com aquilo que pensam que são) mais geram sofrimento para os que ficarem fora de suas definições.

Agindo assim, fica mais clara a nossa conexão com a paz que propagamos. Como diz o Ven. Thich Nhât Hanh: Paz em si mesmo, paz no mundo.

Obrigado pela atenção

Samuel Cavalcante

* Quarto Treinamento da Plena Consciência - Thich Nhât Hanh

Consciente do sofrimento causado pelas palavras descuidadas e pela incapacidade de ouvir os outros, eu me comprometo a cultivar a fala amável e a escuta profunda para levar alegria e felicidade aos outros e aliviá-los em seu sofrimento. Estou determinado a falar a verdade, com palavras que inspirem autoconfiança, alegria e esperança. Não divulgarei notícias que não tenham fundamento seguro e nem criticarei ou condenarei aquilo de que não tenha certeza. Evitarei pronunciar palavras que possam causar divisão ou discórdia, que possam desagregar a família ou a comunidade. Estou determinado a fazer todos os esforços possíveis para reconciliar e resolver todos os conflitos, por menores que sejam.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

budismo simples

Creio que de todas as religiões o budismo é a que tem a mensagem mais simples. Tão simples, mas tão simples, que é difícil de praticar. Tão simples que os povos tiveram que cobrí-la de rituais e mantras e recitações complicadas para torná-la mais fácil de praticar.

Por que é mais fácil decorar milhões de sutras, cantar inumeráveis mantras, decorar nomes longos e estranhos, dançar as coreografias mais complicadas com as roupas mais coloridas, do que nos atermos à sua mensagem pura e simples.

Tanto é mais fácil que o próprio Buda jamais praticou essas coisas. Sua única prática exterior era a meditação. Sentar, caminhar, olhar, comer, beber, tomar banho, tudo era impregnado pela sua presença consciente. E essa presença consciente brilhava com fulgor onde quer que ele fosse.

Isso é o que chamamos de viver plenamente o presente. Viver o presente com tanta liberdade que tudo se torna motivo de felicidade.E fazer isso era tão impressionante e maravilhoso que os ricos abandonavam suas riquezas para se tornar seus seguidores. E os pobres, por sua vez, abandonavam sua pobreza para ser seus seguidores.

Mesmo o Buda penou bastante para realizar essa descoberta. E quando a fez ficou impressionado com a sua própria cegueira.